![]() ![]()
|
![]() site profissional
sites pessoais
quarta-feira, junho 18, 2003
santos e pescadores
fumo branco avança o seu odor, que nem névoa do alto mar embrenhando os barcos com a arte da surpresa sorrateira e predadora. barcos com rostos sulcados pelo sal agreste. pela bruma as mulheres batem-se com os olhos em lágrimas, tacteiam as rotas conta a conta pelos terços, as lágrimas caídas, refulgem as brasas, uma labareda salgada irrompe, temperando o aroma da faina recolhida. redes recolhidas, sangrando os dedos com cortes perenes. Feridas que nunca cicatrizam, pois é como se fossem contagiosas, mal uma cicatriza - deixando em seu lugar o calo que permitirá maior resistência, como se fosse uma evolução da genética do pescador - uma outra, logo aparece, tendo a precisão e a delicadeza de um corte perfeito de nylon. Caindo o sangue sobre as águas, o engodo malogrado de uma vida anfíbia e nómada. não escolheram a sua profissão, apenas crescem nela e nela se tornam, enraizados para sempre como osso na carne. Se deixam o mar, as suas mãos tornam-se calcinadas e perras, uma artrose antes do tempo, e um corpo náufrago na terra, perdido para o que fora talhado. o cardume disseminado pelas grelhas de metal, sustentas sobre as brasas que deitam o sol na foz do meu rio sob o ombro de paredão de olho aceso, em vigilância ao dia que adormece lentamente sobre o eflúvio de sardinhas assadas, polvilhadas com as quadras dos manjericos que perfuram as ruas no outro lado do rio em noite de S. João. eu, paralelo ao mar incandescente, absorvo as memórias que se acendem ebulientes no interior das pálpebras recolhidas, colocando os sentidos a perscrutar os imarcescíveis odores das tradições passadas. © direitos reservados ao autor nelson d'aires
Comments:
Enviar um comentário
|
![]() |
![]() o palato tem cor rosada. vermelho quando irado |