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sexta-feira, julho 25, 2003

 

Ele

E se o amor for a maior mentira de todas… Amor… Estranha palavra de sobrevivência, quando sinto que, tudo se anula perante a imensidão do mar aos pés da ternura do gesto de uma criança decalcada pela contra luz a brincar na areia ainda fria da noite há pouco escorrida pela névoa que envolve o corpo adormecido.

A noite faz-se em água que o sol bebe, dissipando a bruma do caminho, iluminando todo este espaço com a luz clemente de uma manhã de Inverno soalheira. A areia escorre pela brincadeira das mãos como uma ampulheta, o vidro é o mesmo do seu olhar, ainda transparente e puro, sem a noção de tempo que é sempre, mais velho que uma criança e mais jovem que um velho idoso.

A silhueta da criança em cócoras e as mãos ebulientes sobre os castelos de areia solta, preenchendo a forma com uma memória inocente, tão distante e rara como as fotografias que apagaram a existência da criança que fui, e que eu sei que, ainda pernoita algures dentro de mim. Mas, tal como as fotografias que aprisionaram os falsos sorrisos, ainda me vem à memória pequenas coisas, pequenas imagens estagnadas de pequenas coisas. Coisas sem importância, ou então, apenas com a importância das pequenas coisas.

Como apertar os atacadores? Como saber ver as horas? Saber pentear-me sozinho, como? Tudo perguntas que me lembro perfeitamente de as ter questionado. Aterrorizava-me a ideia de crescer sem ter senão outra opção que tal. E o primeiro medo de ter que ser Grande, era precisamente eu, ainda não saber apertar os atacadores; não saber ver as horas e também não saber me pentear sozinho.

Pois bem, já vivi sozinho, já sei apertar os atacadores e sei ver as horas (se bem que nunca ande com relógio), e quanto ao penteado, aí, já é subjectivo, se realmente sei, ou não, me pentear. Ultimamente não me penteio, abano e já está, que os dedos fazem o resto. Os medos continuam. Se bem que outros, confesso. Mas, medos à mesma. Medos proporcionais aos adultos. Este medo da partilha de um espaço por duas pessoas, em que sinto que me vigiarem as mãos, rodeadas por risos inocentes das crianças deitadas a correr em brincadeiras na areia salgada, nesse areal que num instante toda a infância se perde pela conquista do ser adulto. O medo destas mãos trémulas pelo frenesim das palavras que se aglutinam na ponta dos dedos, à espera se serem escoadas pelo que lhes rodeiam, onde as crianças são tatuadas no papel aquecido pelo sol e a tinta congelada por todos estes momentos inocentes, que em breve se perderão para se encontrarem.

Uma estranha sensação continua a vigiar estas mãos frias que escrevem fervorosamente à procura de algo tenebroso, é a procura De, a mais avassaladora de todas, cheia de estranhos caminhos e de artimanhas incompreensíveis, ocultas no silêncio cerzido de quem observa minuciosamente todo o detalhe articulado pela expressão.

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Vermelhar   
o palato tem cor rosada. vermelho quando irado