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terça-feira, julho 22, 2003

 

O diálogo existente entre uma pessoa e a casa onde pernoita o seu ser, é extremamente íntimo e praticamente ininteligível para o quem tentar descortinar. Todos nós, temos uma afinidade maternal para com a casa que habitamos, e não é de condenar o facto de por vezes estranharmos as casas dos outros, ou de pelo menos das casas de algumas pessoas.

O nosso Ser coabita com ambas, com o corpo e com a casa.

Há algum tempo atrás andei à procura de uma casa. Mas não podia ser uma casa qualquer. Andava à procura de uma casa que me escolhesse.

Por muito que pensemos o contrário, são as casas que nos escolhem e não nós a elas. Elas têm de entrar dentro de nós e sentirem-se bem com o nosso corpo que ocupa sempre muito espaço. Embora, hajam pessoas, que ocupam muito pouco espaço dentro de si próprias. Essas são aquelas que pouco falam e que se alimentam de silêncio, até que um dia, damos conta de que, nunca reparamos na presença da ausência dessas mesmas pessoas, que estão perdidas de si próprias. Talvez eu seja uma dessas pessoas.

A casa, o local que nos escolhe para assentarmos arraias nómadas, tem que nos absorver de forma a não nos tornarmos poluição arquitectural. Tem de olhar para nós e sentir-se amada por apenas existir e nada mais.

As casas não gostam de ouvir reparos quanto ao que poderia ter e ao que não deveria de ter. Se assim for, sente-se infeliz, incompleta e logo sabe que nunca nos iremos sentir bem dentro de nós. E a nossa tristeza, aos poucos e poucos vai se espalhando pelas divisões da casa, degradando-a com o abandono do amor por nós.

As casas tem de ser aceites como elas são, caso contrário têm de ser construídas por nós próprios. Pode parecer contraditório o que digo, pois o sonho de qualquer pessoa é construir a sua própria casa, à sua imagem, gosto e alguma excentricidade. Mas, para mim, as casas são como a nossa outra parte, têm de ser encontradas ou nos encontrar, prefiro que me encontrem.

Não consigo imaginar, a minha outra parte construída por mim. A única coisa a construir é a relação amizade/amor, que é a única coisa que mantém unido o círculo.

A casa, pode ser decorada conforme os estados de espírito e construir assim um aconchegante ombro para os momentos de relaxamento e de contemplação, mas nem sempre a arquitectura dessa casa permite e aceita certas decorações, sem antes gritar. Temos de aceitar a nossa outra parte como ela realmente é e aprender a viver com os seus defeitos, tal como nós os temos também.

Nem todas as casas, têm aquela varanda adorada a poente, onde pudesse ser banhada pelo oceano paralelo a esta linha de terra. Ou então, aquela divisão que deveria de ser maior e talvez ter mais uma ou duas janelas ocupando toda a verticalidade por onde ansiamos caminhar um dia. O soalho, nem sempre pode ser de madeira maciça, exalando fragrâncias exóticas como esperança de tornar a casa mais próxima da natureza, esquecendo a selva (a verdadeira mãe) que está mais pobre, desbastada, esventrada, em que os macacos são obrigados a apertarem o seu habitat nas cópulas das árvores que por enquanto estão a salvo.

Existe só uma coisa em que funciona ao contrário. Por vezes, numa casa, o que nos cativa, não é a sua forma arquitectural, mas sim, o meio exterior onde está inserida, a paisagem.
O meio que nos espraia ao sabor dos cheiros soltos pelas imagens que rodeiam a casa e completam o que nos faltou no dia. Na nossa outra parte, sem dúvida alguma que o nos prende, não é a sua imagem exterior (paisagem), mas sim o seu sorriso interior, que nos percorre como uma criança ao encontrar a sua mãe, que chega a casa, após um fatídico dia de trabalho, mas que logo reanima ao ver os braços esvoaçantes que vão pousar no seu colo, para receber os ansiados mimos. A mãe aproveita e mima-se a si própria também.

A empatia tem de ser una e sincronizada como o ligar um interruptor e logo a luz incendiar o espaço, para nos acolher no regaço do aconchego e do resguardo das almas que se sentem desamparadas e desprotegidas, ganhando estas, assim, uma silente morada de identidade.

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Vermelhar   
o palato tem cor rosada. vermelho quando irado