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sexta-feira, agosto 29, 2003
mata
à noite, penetra-se pela mata como uma mão alheia por dentro da roupa de outro corpo, apalpando o caminho às escuras atraído e ao mesmo tempo receando a sua negação. embrenhamo-nos pela mata sem pedir permissão, todos sabemos que a escuridão se alimenta de olhos, dos olhos que se abrem na escuridão à procura do mais íntimo resquício de luz. mas, na escuridão todos os olhos são cegos, temos de ver pelas mãos, respiração, ouvidos e pelos pés. é o regresso ao ventre, a mata é mãe natureza, seguimos as suas regras para lhe entrar em casa. podemos entrar em sua casa sem convite, mas cumprindo obrigatoriamente as suas regras e na mata à noite é a escuridão que governa a casa e não admite luz para além da insónia do céu estrelado. passo a passo percorremos as entranhas da mata, há quem se atrase e também quem se adianta, proporcionando o lascivo roçar dos corpos ébrios pelo mistério da escuridão e dos muitos sons que coabitam cerrados, camuflados pelos pinheiros, pelos ramos que se erguem e tocam na profundidade do céu. ansiámos trepar por essa assombrosa verticalidade e quase o conseguimos, mas os corpos são fracos, acabámos por cair sobre as densas camadas de caruma, esvaídos adormecemos com o caos espalhado pelas roupas como um rasto para a madrugada.
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