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sábado, outubro 09, 2004
enclosure
![]() auto retrato, 2004 Sábado à noite. do outro da janela chove como se o amanhã não existisse e o céu a precisar de ficar leve para partir para outro lugar. é sábado à noite, no andar de baixo os irmãos metem as mãos pelos cabelos gordurosos e olham-se ao espelho, constroem aquilo que os outros querem ver e talvez engatar fortuitamente. no andar abaixo dos irmãos a mãe mete as mãos na gordura da louça tentando lavar o tempo enquanto espera o marido que está lá fora, do outro da janela onde chove muito como se o amanhã não existisse. para além dos humanos existem ainda os animais que fazem os humanos cá da casa corar de vergonha de si próprios. são animais simples que choram quando têm fome e saltam de alegria quando vêm os donos de regresso a casa. como um bom cão e um bom gato, são eles os próprios quem se encarregam da hora em que um tem de fugir e o outro tem de afugentar. a esta hora estão com certeza aninhados na cozinha, um na mesa e o outro no chão a fazerem companhia à minha mãe que não vai ao cabeleireiro à uns meses e que nunca se esquece de lhes dar mimo e comida, mesmo quando eles não o merecem. Todo este processo descritivo não me faz sentir melhor nem pior, afinal de contas lá fora chove como se o mundo acabasse amanhã. enquanto chove, há quem sinta o inverno a acordar dentro de si, animal sedento. é sábado à noite e sei de mil e um sítios onde poderia estar neste momento, e é tão simples a forma como eu troco todos esses lugares por um que absorva tudo como uma esponja nesta noite onde lá fora chove como se o mundo acabasse amanhã. fotografia e texto | © direitos reservados ao autor nelson d'aires [caso deseje visitar ou comentar as entradas anteriores devidamente agrupadas por temas, é favor clicar aqui]
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![]() o palato tem cor rosada. vermelho quando irado |