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sábado, agosto 27, 2005
![]() pampilhosa da serra, agosto 2005 - foto e texto, © direitos reservado ao autor nelson d'aires para ver a imagem com maior resolução é favor clicar na própria de volta ao sossego do meu querido sótão. a desarrumação continua e os gatos ainda urinam no chão do quarto ao lado do meu. as janelas continuam abertas na posição exacta da respiração possível e as portas despidas de fechaduras continuam encostadas ao pó. nas unhas das mãos e dos pés transporto a terra e as cinzas de três mil quilómetros feitos de carro, sempre na cauda dos fogos florestais. o fumo ainda não desapareceu e não vai desaparecer nunca. é certo que tudo renasce. as roupas, o tecido dos bancos do automóvel, o meu cabelo: tudo cheira ainda a fumo, tudo é fumo. se há memória que sobreviva ao fogo é o cheiro denso e negro do fumo. não sei ainda o que fotografei, mas sei o que vi: a terra arde, as pessoas choram demasiado com os braços cruzados e os bombeiros voluntários precisam de descansar mais. foram duas as semanas em que persegui as chamas que expulsaram os animais dos seus habitats (aqueles que não conseguiram fugir morreram e as suas estórias levadas com o fumo). por conta própria fui tentar fotografar o medo, o espanto, a fuga, a destruição, o combate, o cansaço, o sono, a vigília, a fome, o regresso. não sei ainda se o fiz. mas uma coisa eu sei: o fogo não é feito de silêncio. o fogo é a melhor das companhias pois nunca me senti sozinho, havia sempre um grito por perto. investi as minhas férias no esforço de alcançar todos os dias as consequências das mais altas chamas. o dinheiro, esse, quase não o havia e o que havia foi investido quase todo em gasolina: sempre a combustão. um corpo cansado dorme em qualquer lado e nunca reclama, umas noites "dormi" na mata e as restantes no banco de trás do meu querido carro. a comida, essa, raramente era preciso mais do que o necessário. o bem mais precioso foi a água, não para o banho (luxo desnecessário. bastou um em duas semanas), mas sim para beber e para apagar o fogo. agora preciso de descansar de tudo isto. sim, tenho essa sorte, entrei e saí sem "danos". houve quem não tivesse essa sorte. e como não tenho este trabalho comprado por ninguém, voltarei a ele daqui por umas semanas. [caso deseje visitar ou comentar as entradas anteriores devidamente agrupadas por temas, é favor clicar aqui]
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